25/12/2017

Vale a pena esperar

Já sabemos que, para além do Natal do Senhor, há um outro natal em circulação por aí: o natal do comércio, das prendas, das frases “bonitas” mas sem Cristo, do “Pai Natal” e até dos hipopótamos (que sempre foram animais muito natalícios… ou então não). A única coincidência que estes dois natais têm entre si é o dia 25 de Dezembro: o natal paganizado acaba nesse dia e o Natal do Senhor começa nesse dia. O natal paganizado acaba nesse dia talvez por já não ter mais nada para vender: começa uma nova campanha comercial, os hipopótamos dão lugar à publicidade de artigos para a passagem de ano. O natal paganizado já nos cansa muito antes de meados de Dezembro, porque já desde o início de Novembro que nos enchem a cabeça com as músicas irritantes daqueles anúncios comerciais. Por isso, ao chegar o 25 de Dezembro, esse natal está estoirado, já deu o que tinha a dar; fica só o vazio, já passou…
E é então, quando o natal paganizado se vai calando, que estão reunidas as melhores condições de silêncio para começar o verdadeiro Natal, o de Cristo: tantas belas festas natalícias que se prolongam na liturgia ano novo adentro! Um tempo belo para contemplar Deus feito Menino. Enquanto o mundo vive o natal comercial (esgotado antes do dia, como fruto colhido antes de estar maduro), os cristãos vivem a conversão e a esperança vigilante do Advento. Porque o Natal não é para ser “consumido”: as coisas importantes esperam-se e preparam-se interiormente com antecedência. Como os noivos castos que esperam o dia do casamento para, então, viverem como casados; como a grávida que espera com alegria o nascimento do seu bebé; como o seminarista que vai amadurecendo a vocação; como o amigo que aguarda feliz a chegada do seu amigo… Assim é o Advento, que nos vai enfeitando o coração para a festa que se prolonga e deixa sabor.
Pe. Orlando Henriques

17/12/2017

AO CALOR DA FOGUEIRA (17-12-2017)

– Bendito seja Deus que nos mandou dois dias de chuva! Ainda não chega para as necessidades, mas é já uma boa ajuda, porque estava tudo seco, Tio Ambrósio! Olhe que até para apanhar o musgo para o presépio idealizado pela minha pequena tive que correr montes e vales. Isto é um modo de dizer, porque no pedaço de pinhal que sobrou dos incêndios encontrei mais que o necessário…
– Eu também já montei o meu, Carlos! Uma coisa muito simples, mas a que eu atribuo grande significado. Uma cabana construída com duas pedras e uma laje a servir-lhe de cobertura, sem luzes de várias cores. A iluminação é feita com uma simples lâmpada de azeite. E este ano optei por não colocar nem a vaca nem o burrinho, porque os incêndios deram cabo dos pastos…
– O Tio Ambrósio está a usar uma linguagem muito figurada. Os animais que colocamos nos nossos presépios não precisam de forragem…
– Mas precisam os outros, Carlos! E olha que não tem sido fácil para muitos pastores encontrar alimento para os seus rebanhos. O que tem valido a muitos é a grande solidariedade que se gerou em algumas regiões do país, que enviaram toneladas de pasto para os locais mais atingidos por este flagelo que tão cedo não vai abandonar as nossas cabeças.
– A pouco e pouco tudo vai regressar ao normal. Por isso, no presépio lá de casa há muitas luzes, muita gente a passar pelos caminhos, e muitos animais, desde um cão que guarda o rebanho das ovelhas, até ao galo que, colocado no cimo de um telhado de xisto, acorda todo o povoado logo pela manhã…
– E nem vaca nem burro, Carlos!
– Já lá vamos, Tio Ambrósio! Por causa do burro é que eu, este ano, tive que voltar ao presépio. Estou a falar do presépio verdadeiro, daquele em que a Puríssima Virgem Maria deu à luz “Aquele que, por nós homens e para nossa salvação, desceu do Céu”…
– Voltaste a ser brindado com a graça de mais um sonho natalício! És um rapaz cheio de sorte! Conta-me cá como tudo aconteceu!
– Aconteceu como das outras vezes, Tio Ambrósio! Como ao burro de barro do nosso presépio já faltava uma das orelhas, a minha pequena não se calava, dizendo à mãe para comprar um burro novo, porque havia deles à venda na loja do Sanguessuga. E tanto clamou que, já ao anoitecer, eu tive que pôr os pés ao caminho e ir comprar o animal ao Manuel das Chagas. Deve ter sido por isso que, nessa noite, mal me estendi na cama, adormeci que nem um justo e, passados momentos, estava a sonhar com um burro de verdade, que alguém, de quem já nem o nome me lembro, tinha deixado ao meu cuidado para, na noite de Natal, levar ao presépio de Belém, porque tinha nascido ali um Menino muito pobre, que precisava do bafo quente de um jerico e de uma vaca, para não tiritar de frio.
– E tu montaste no burro, e aí vais, todo janota, até onde o sonho te quis levar…
– Mais ou menos isso, Tio Ambrósio! Mas como a figura dos meus sonhos me falara também de uma vaca, resolvi passar pelo meu estábulo e levar a Malhada, que é mansa como a terra. Não me pergunte por onde passei, nem que caminhos percorri, porque a lembrança que tenho a seguir é a de, montado no jerico e com a Malhada à soga, ter chegado a um terreiro, onde me aguardava um homem vestido com uma túnica castanha e que, fazendo-me sinal para eu parar, me perguntou se era eu o senhor Carlos do Cabeço. Saltei do burro e, como quem se apresentava para cumprir uma missão importante, disse que sim, ao que ele me respondeu, numa voz muito pausada, mas firme, que fora ele mesmo a requisitar os meus serviços, porque lhe haviam dito que sou uma pessoa sempre pronta a ajudar os pobres e desvalidos. Depois estendeu-me a mão calejada e fez a sua apresentação. O seu nome era José, carpinteiro de profissão, e tinha vindo a Belém para se recensear com a sua jovem esposa que, tendo chegado o seu tempo, se vira na necessidade de dar à luz num local muito pobre, por não haver lugar na única hospedaria da pequena cidade. Com frio que estava, a presença dos dois animais era fundamental, constituindo como que um aquecimento central para o acanhado apartamento.
– Mais propriamente um curral!
– Eu não queria usar esse termo para designar o local onde nasceu o Filho de Deus e da Virgem Santa Maria. Mas o Tio Ambrósio tem razão. Aquilo era mesmo um curral nos arredores da pequena cidade, onde os pastores, em noites de maior invernia, abrigavam os seus rebanhos.
– E depois das apresentações, entraste lá dentro…
– O Patriarca José, com uma alanterna de azeite, foi à frente para indicar o caminho. Eu fui atrás com a Malhada, que parece que até já conhecia o local, pois foi logo deitar-se ao lado do Menino deitado nuns paninhos simples que cobriam um molho de feno que, à falta de melhor, servia de berço. Logo o animal começou a desempenhar a sua função, aquecendo com o seu bafo os pezinhos do Divino Infante, que, numa noite daquelas, deviam estar mais que gelados. Depois, aos poucos, o curral foi ficando iluminado, com uma luz tão suave, que eu não consegui imediatamente identificar de onde vinha. De qualquer modo, aquela claridade permitiu-me ver as feições belíssimas da jovem Mãe, que estava de joelhos e de mãos postas, numa atitude de pura contemplação diante do mistério daquele Menino.
– E tu, Carlos?
– Eu senti um impulso irresistível de cair com ambos os joelhos por terra e tentei imitar a Virgem Maria, enquanto o jerico se foi colocar do outro lado do Menino, colocando por terra, primeiro as patas dianteiras, e depois também as detrás, deixando, nesse acto, escapar um pequeno sinal sonoro. Arregalei os olhos e logo reconheci o Fogueteiro, o meu companheiro de vigílias semelhantes em anos anteriores. Fiquei contente, porque vi que, ao lado do burro, estava com a minha gente!
– E depois?
– O que veio a seguir irei contar-lho na próxima semana, que é mesmo no dia da Consoada. Virei buscá-lo a tempo, e se formos a pé, iremos conversando pelo caminho. Pode ser?
– Pode, Carlos! Vai lá com Deus!

10/12/2017

AO CALOR DA FOGUEIRA (10-12-2017)

– Boas e santas tardes nos dê Deus, Tio Ambrósio!
– A todos nós e aos nossos familiares, conhecidos, amigos e mesmo inimigos, se os tivermos! Que Deus, quando dá, é para todos. Como diz a Sagrada Escritura, que é sempre o meu livro de referência, Ele manda o sol e a chuva sobre todos, justos e injustos…
– E agora, com esta seca agravada que se instalou entre nós, bem preciso é que Deus nos mande o precioso dom da chuva. As dádivas de Deus são sempre preciosas! Mas quando a necessidade é muita, as nossas preces devem ser maiores. Sabemos, como dizem os grandes santos, fundados no Evangelho, que não é por dizermos muitas palavras que Ele nos escuta melhor, pois sabe muito bem daquilo que nós precisamos muito antes de nós Lho pedirmos…
– Creio que foi Santo Agostinho que escreveu, numa célebre carta a uma matrona romana, de nome Proba, ali por volta do ano 411, que as palavras que empregamos na oração destinam-se não tanto a lembrar ao Senhor as nossas necessidades, mas a lembrarmo-nos a nós próprios e a estimularmos a nossa devoção. Se um dia vier a talho de foice, havemos de falar mais longamente das cinco cartas que o santo Bispo de Hipona escreveu a essa viúva cristã e a Juliana, sua familiar, que o haviam consultado sobre a forma de entender o trecho do capítulo 8 da Carta de São Paulo aos Romanos ao afirmar que é o Espirito Santo que vem em ajuda da nossa fraqueza, “pois não sabemos o que havemos de pedir em nossas orações”.
– Esse seria um bom tema para o Tio Ambrósio desenvolver numa das nossas catequeses de adultos. Embora não esteja programada, parece-me que, a propósito desta falta de chuva, uma palestra sobre o que devemos pedir e forma como devemos fazê-lo cairia como sopa no mel.
– Todos nós, os cristãos, temos necessidade de meditar sobre a oração, partindo do modelo que o próprio Jesus nos deixou ao ensinar-nos o Pai-Nosso. Aliás, posso dizer-te que Santo Agostinho, na carta que aqui referimos, chega a afirmar que não há nenhum pedido bom que não esteja incluído na oração que o Senhor nos ensinou. A título de exemplo, quando dizemos que nos dê o pão nosso de cada dia, estamos a desejar que nos envie a chuva, sem a qual os nossos campos não podem produzir o trigo, o milho, o arroz ou a cevada…
– E, no “pão de cada dia”, estão incluídas também as forragens para os nossos animais…
– Está incluído tudo o que é necessário para a nossa subsistência, Carlos! Que temos nós que não seja dádiva gratuita de Deus Nosso Senhor?
– Nesse caso, no próximo encontro do grupo de catequese, eu vou propor uma lição dada pelo Tio Ambrósio, para nos explicar o sentido mais profundo duma oração que nós rezamos todos os dias, mas quase sem nos darmos conta do que estamos a dizer…
– Estes tempos de maior frio não são os melhores para eu sair de casa. Mas, lá para Março, que já é altura de sementeiras, tenho todo o gosto em partilhar convosco alguns dos ensinamentos que vou colhendo na leitura de bons livros e na meditação mais aprofundada que vou fazendo sobre a Palavra de Deus. Até podemos escolher como título para a palestra: “O que tem o Pai Nosso a ver com a plantação da batata”.
– O Liberato diria que é um título bastante prosaico…
– Eu sei que não tem a elevação devida para gente piedosa, Carlos! No entanto, podemos tirar proveito da curiosidade das pessoas, que logo pensarão que orações e batatas não cabem no mesmo saco.
– E cabem, Tio Ambrósio?
– Claro que cabem, Carlos! Então qual é a base da nossa alimentação aqui no Cabeço? É a batata, a par das hortaliças, do milho e do centeio, que agora já cultivamos em escala muito reduzida…
– Para si, a castanha continua a ter alguma importância…
– Muita importância, Carlos! Por isso, quando eu peço ao Senhor que me conceda o pão de cada dia, estou a pensar também nos meus castanheiros, sobretudo neste de grande porte que tenho aqui ao lado de casa. Tenho ali no caniço duas arrobas de castanhas que, depois de piladas, me vão servir para fazer saborosas sopas, sobretudo nesta época de maior friagem.
– A minha Joana usa mais o feijão catarino…
– Também esse entra no saco da oração do Pai Nosso, Carlos!
– A propósito de sopa, o Tio Ambrósio não se esqueça que, na noite de Natal, a ceia é lá em nossa casa! A minha mais pequena já anda toda entusiasmada com a montagem do presépio. Até me pediu para ir um bocadito mais cedo para a acompanhar na apanha do musgo, que é sempre um dos materiais que usamos em maior escala. Depois, coberto com duas mãos de farinha, até dá a impressão de um campo ou de um monte cheio de neve…
– A nossa imaginação é fabulosa, Carlos! Olha que até a neve depende da chuva! E, pelos vistos, arriscamo-nos este ano a ter um Natal com muito gelo, mas sem a neve a encher de brancura os nossos telhados e os nossos caminhos…
– Mas não vai ser por isso que o Menino Jesus deixará de descer até nós, para habitar connosco, na nossa tenda…
– Muito apropriada essa expressão, Carlos! Bem se vê que as lições da catequese de adultos têm sido proveitosas para todos, até porque são ocasião para lerdes alguns textos significativos da Sagrada Escritura.
– Eu sempre aprendi muito nestas conversas que, todos os domingos, aqui mantenho com o Tio Ambrósio! Mas digo-lhe que uma coisa não tira a outra! Posso antes dizer que uma e outra se completam, até porque muitas vezes, assim como quem se quer fazer passar por desentendido, eu puxo aqui algumas conversas que me surgem de dúvidas que me ficam dos encontros de catequese…
– Não penses que eu não tenho dado por isso, Carlos! Mas ainda bem que assim se passam as coisas, porque o importante é cada um de nós crescer em diversas dimensões, nomeadamente na dimensão espiritual da vida. Mas não te prendo mais, porque a tua filha deve continuar à tua espera para irdes apanhar o musgo para o presépio a montar em vossa casa.
– Então, fique com Deus, Tio Ambrósio!
– Que Ele te acompanhe sempre, Carlos!

03/12/2017

AO CALOR DA FOGUEIRA (03-12-2017)

– Até pensei que o Tio Ambrósio não estava em casa. Mas ainda bem que o vejo chegar e, ao que parece de perfeita saúde!
– Depois do repasto saí um bocadito para esticar as pernas, porque todos os médicos recomendam, sobretudo aos adultos seniores, que, para manutenção e equilíbrio da saúde, se deve fazer uma pequena caminhada diária ou, pelo menos, dia-sim dia-não. Quando marco encontro com o senhor doutor Secundino, o que ele me recomenda sempre, para além de não sei quantos comprimidos, é beber muita água e caminhar o bastante. E eu costumo ser mais ou menos cumpridor dos conselhos dos clínicos…
– Quando o tempo estiver de feição, se vossemecê quiser, até podemos combinar umas caminhadas, aproveitando para, pelo caminho, botarmos a conversa em dia. Em vez de estarmos aqui parados, fazemos as duas coisas ao mesmo tempo…
– Tu quase sempre apresentas sugestões acertadas. Mas, agora que estamos a chegar à quadra do Natal, possivelmente não é a época mais apropriada. Deixamos isso para depois da Senhora das Candeias, que os dias já estão a crescer, e pode acontecer que tenhamos aí umas tardes a cheirar a Primavera…
– Estou sempre à sua disposição, Tio Ambrósio!
– E agora que me contas da vida aí pelo nosso Cabeço?
– Olhe, Tio Ambrósio! Tanto eu como o Sanguessuga e o meu cunhado Acácio estamos bem contentes com a safra da azeitona. É verdade que muitos olivais foram pasto das chamas. Mas os que ficaram aqui mais perto do povo, produziram a bem dizer por eles e pelos que arderam. Eu nem sei se o Tio Ambrósio tem colheita que lhe dê para todo o ano…
– Tenho, Carlos! Este ano tive bastante, e as azeitonas até fundiram mais do que eu estava à espera, por causa da seca. Dá-nos Deus mais do que nós merecemos!
– É verdade! E as coisas vão-se restabelecendo aos poucos! Esta chuvita, embora pouca, já deu para que nos lameiros nasçam ervas, e eu penso que, lá mais para diante, vamos voltar a ver as nossas encostas revestidas de carquejas e de urzes…
– Este ano ainda não, Carlos! A natureza é pródiga em surpresas, mas, desta vez, a destruição foi muito grande, deixando marcas profundas que, mesmo que as coisas corram pelo melhor, vão demorar vários anos a desaparecer. Há feridas que deixam cicatrizes que só se curam com o tempo. Tu talvez faças uma ideia aproximada de quantas colmeias arderam só no concelho da Pampilhosa da Serra…
– Eu não me dedico à apicultura, Tio Ambrósio! Já me chega o trabalho que tenho para criar os bezerros. Mas ouvi dizer ao Quintino que, só a um compadre dele da freguesia de Fajão, arderam perto de duzentos enxames, o que lhe vem comprometer a venda do mel e da respectiva aguardente, que é uma das especialidades daquela região.
– E tudo isso vem contribuir para a desertificação daquelas terras, Carlos! A vida até aqui já não era nada fácil, pois as reformas são muito pequenas, sendo supridas por alguns centos de euros auferidos destas culturas, quer do mel, quer do medronho, quer da venda de algumas árvores.
– Ou mesmo até do leite e do queijo produzido a partir do pastoreio dos poucos rebanhos que ainda existiam. Mesmo que os pastos se refaçam, um rebanho de ovelhas ou de cabras demora bastante tempo a restabelecer-se. A não ser que se vão adquirir animais a outros lugares do país…
– São muitas dificuldades juntas, a acrescentar à mais significativa de todas, que é a do envelhecimento da população do interior do país. Já aqui temos conversado várias vezes sobre a falta de gente nova. As escolas fecharam. E essas actividades que referimos são exercidas por gente já bastante avançada nos anos que, olhando à sua volta, não sei se está disposta a recomeçar praticamente do nada.
– Nós, os beirões, somos de rija têmpera, Tio Ambrósio! Mas acredito que esta circunstância sirva para alguns abandonarem as suas aldeias, deixando-as totalmente desertas. Espero bem que não…
– Pelo menos aparentemente, as autoridades do país estão dispostas a fazer com que a vida desta larga região retome o seu ritmo normal…
– A ver vamos, Tio Ambrósio! Os problemas alheios depressa esquecem a quem os não sente na pele! E atrás destes, outros vêm, como é agora o caso das muitas e variadas greves que, aos poucos, vão paralisando o país…
– Parece que não estás muito de acordo com as reivindicações dos trabalhadores, nomeadamente os ligados à função pública.
– Todos temos o direito de manifestar a nossa opinião, Tio Ambrósio! Só que a voz de alguns não é ouvida por ninguém, ao passo que a de muitos outros é ampliada pelos meios de comunicação social.
– E pelas greves, Carlos! O Sanguessuga contou-me há poucos dias que, tendo uma consulta marcada em Coimbra, para ele ou para a mulher, ficou que nem uma barata ao chegar ao respectivo local e receber a informação que, por falta de um funcionário, a senhora doutora não atenderia ninguém, adiando o acto clínico para o dia 23 de Fevereiro do ano que vem, que, por acaso até calha a uma sexta-feira, que é o dia mais propício para serem marcadas novas greves…
– Podia ser pior! Mas convenhamos que a saúde das pessoas não é propriamente um assunto com que se possa brincar…
– Brincar? Vai lá dizer essa aos sindicalistas, que ainda és corrido com uma manifestação de insultos! “A brincar – dizem eles – andam os governos há muito tempo com os trabalhadores”.
– E alguns têm razão, porque o sol quando nasce é para todos, Tio Ambrósio! Se a alguns é reconhecido o direito de progredirem nas suas carreiras, parece-me justo que os que ficaram para trás reclamem…
– Eu concordo com os princípios da justiça decorrente da igualdade, Carlos! Só que me parece que o bolo disponível é capaz de não ser suficiente para todos saciarem a sua fome. E o que acontece é que quem mais berra mais mama, não se interessando com os que não conseguem nem sequer obter umas pequenas migalhas que caem quando se sacode a toalha da mesa das conversações.
– E daí surgem novas lutas, cada classe procurando falar mais alto que as outras, de tal forma que se chega a uma barulheira tal que ninguém se entende…
– Sábio é o povo que, desde há muito, diz que “em casa onde não há pão, todos ralham e (se calhar) todos têm razão”!
– Será, Tio Ambrósio?

Descontos e mais descontos? – As origens da "Black Friday"

A “Black Friday” é um dos mais importantes dias para o comércio norte-americano, depois do Dia de Acção de Graças. Há lojas que abrem de madrugada para receber os primeiros clientes, normalmente muito entusiasmados.
Mas o conceito original de “Black Friday” – ou Sexta-feira Negra – nada tem de positivo. Mas para se perceber as origens do termo, há que recuar ao século XIX, quando dois dos mais notáveis e implacáveis negociadores da Bolsa de Nova Iorque se juntaram para comprar o máximo de ouro existente nos Estados Unidos.
Mas o negócio falhou e o resultado foi a bancarrota para muitos.
Por cá, também entramos nesta euforia de descontos promovidos pelas grandes superfícies quando na verdade não são descontos. A Deco alerta para a fraude existente nestas campanhas que levam as superfícies, nas vésperas das promoções, a aumentarem substancialmente os preços dos seus produtos fazendo depois o desconto sobre esse aumento. Em muitos casos não há desconto!
Antes de comprar trate de comparar preços. Compre só aquilo que realmente precisa. Não entre na correria dos descontos…
Miguel Cotrim