27/08/2017

De bombeiro a monge beneditino

Toma Colucci lutou ao longo de duas décadas contra o fogo, em Nova Iorque, salvando centenas de vidas. Hoje salva almas do fogo do inferno.
Depois de se reformar aos 60 anos, o ex-bombeiro, que chegou a ser capitão do departamento de bombeiros daquela cidade, decidiu abraçar uma outra vocação: o sacerdócio.
O atentado contra as Torres Gémeas no dia 11 de Setembro de 2001, no qual morreram cinco de seus companheiros, influenciou a sua decisão. “Como bombeiro, vi muito sofrimento e miséria por incêndios e tragédias como o atentado de 11 de Setembro. Mas assim como vi o pior da humanidade, vi o também melhor dela: Cristo”.
Perante o mal perguntámo-nos sempre a razão de Deus permitir isso. Mas, às vezes as tragédias aproximam-nos de Deus, refere o Pe. Colucci depois de se aposentar em 2005, quando ficou ferido na cabeça devido a uma explosão de gás. Passou por duas cirurgias ao cérebro e um sacerdote teve que lhe dar a Santa Unção. Nesses momentos, aproximou-se de Deus e, quando ficou completamente curado, tomou a decisão de ser monge beneditino. Em seguida, ingressou no seminário de Nova Iorque, junto com outros 14 homens que, segundo o ex-bombeiro, constituíram o grupo mais numeroso dos últimos anos.
No próximo dia 11 de Setembro, a pedido dos seus camaradas, o Pe. Colucci, celebrará missa no quartel dos bombeiros de Nova Iorque.
Miguel Cotrim

Ao sabor da Palavra (27-08-2017 - 21º Domingo Tempo Comum - ano A)

Como pode haver quem diga que Jesus “nunca quis fundar nenhuma Igreja”? É Ele mesmo que o diz claramente no Evangelho de hoje, ao declarar a S. Pedro: «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja». Depois de Jesus dizer isto tão claramente, sabemos com certeza que só há uma Igreja verdadeira: aquela que foi fundada por Jesus sobre o Apóstolo Pedro; ou seja, a Igreja Católica, que é a única que continua a ser liderada pelo sucessor do Apóstolo Pedro (o Papa). Existe a lista de todos os papas desde o princípio, e por isso sabemos que há uma passagem de testemunho e de ministério sem interrupção desde S. Pedro até ao Papa Francisco. Assim, estar em comunhão com o Papa é a garantia de estar na verdadeira Igreja e na verdadeira fé. Se esta Igreja foi fundada por Cristo sobre Pedro desde há 2000 anos, como é possível que haja quem vá atrás de seitas mais que duvidosas? Como é possível pessoas pensarem na Igreja Católica, fundada há 2000 anos, em pé de igualdade com seitas que foram fundadas, algumas delas, apenas há pouco mais de 100 anos? Não há comparação entre a Igreja fundada pelo próprio Jesus e grupo algum fundado por um homem qualquer.
P.e Orlando Henriques

À SOMBRA DO CASTANHEIRO (27-08-2017)

– Embora não se tenha feito relatório, ninguém duvida das nossas conversas semanais, Tio Ambrósio! Pelo menos o Liberato anda sempre a perguntar-me qual foi o motivo da nossa conversa aos domingos e dias santos de guarda. Por exemplo, agora, quando foi a terça-feira da Assunção, lembrou-me se tínhamos mandado felicitações aos três reverendos eclesiásticos da nossa Diocese, que completaram nesse dia cinquenta anos de sacerdócio.
– E tu, que respondeste?
– Que toda a gente sabia que o Tio Ambrósio não faltava, nestas comemorações festivas, com um forte abraço de parabéns aos jubilados. E, se lá não chegaram, por qualquer atraso dos correios, aqui vão eles, repletos do desejo de bênçãos e graças dos céus. E, depois disto, trago aqui duas perguntas para lhe fazer, e que correspondem a conversas que tivemos anteriormente. Antes de mais, gostava de saber se o meu cunhado Acácio, como tinha prometido, cá veio fazer-lhe o relato, tanto quanto possível pormenorizado, da viagem que fez ao estrangeiro na companhia da Ermelinda. Eu já sei de tudo! A primeira visita que a minha cunhada fez não podia deixar de ser à irmã, a minha esposa Joana, a quem trouxe uma pequena recordação de um dos lugares por onde passaram…
– Então sabes bem mais do que eu, porque, desde a véspera da partida, em que o teu cunhado aqui veio despedir-se de mim, não voltei a botar a vista em cima do Acácio, que, como tu sabes melhor do que eu, é um homem bom, mas que se esquece com facilidade daquilo que promete, sobretudo quando não se trate de assunto de subida importância, como é o caso presente. Mas, mais dias menos dia, ele vem aí bater-me à porta, sobretudo se tiver alguma dúvida sobre aquilo que viu, como se eu fosse alguma enciclopédia de conhecimento universal…
– E não é, Tio Ambrósio?
– Não sou, Carlos! Sei umas coisitas básicas, daquelas que se aprendem na instrução primária. E mesmo essas já me falham de vez em quando, porque, como diz o Liberato, o disco rígido começa a estar gasto. E tem muita razão para isso, dado o muito uso a que foi sujeito ao longo de anos e anos. De qualquer modo estou ansioso por uma visita do Acácio, e que venha com vagar e com paciência para podermos passar em revista os momentos mais importantes do trajecto efectuado, as pessoas que encontrou, as iguarias que saboreou, os costumes daquelas gentes, e outras coisas mais. Quem tem a sorte de viajar, mesmo que não faça grande esforço de memória, traz sempre novidades, mesmo que pareçam coisas pequenas e insignificantes. Por exemplo, eu gosto que me digam como estão semeados os campos, quais são as árvores de fruto que se dão melhor, o que é que se vende nos mercados, qual é a bebida que servem nos restaurantes…
– A Ermelinda vai-lhe tirar a preguiça do corpo, Tio Ambrósio! E até nem me admirava nada se eles viessem os dois, para o Acácio ficar calado como um basbaque, e deixar falar a mulher à vontade, que aquilo são histórias que davam para uma semana seguida! Lá em casa passou ela mais de três horas para dizer à irmã que naquelas terras do norte da Europa não deve haver burros, pois não se cruzou com nenhum desses simpáticos animais. Mas logo acrescentou que o que viu foi um belo cavalo a puxar um pequeno coche turístico, e um pónei que, num parque citadino, servia de meio de aprendizagem às crianças nessa difícil tarefa de cavalgar toda a cela. Ah! E também lhe foi dado apreciar, no mesmo parque, um belo exemplar de galo calçudo, um pouco diferente dos que nós aí criamos nas nossas capoeiras…
– E a tua cunhada disse-te que por aquelas terras não há burros?
– Estamos a falar de burros quadrúpedes, Tio Ambrósio! Porque se nos referirmos a asnos bípedes, parece que há muitos, tanto lá como cá! Mas o Tio Ambrósio vai tirar isso a limpo, porque eu vou mandar recado à Ermelinda. E, se o Tio Ambrósio quiser, até pode ir almoçar connosco no próximo domingo, porque as irmãs combinaram que vão confeccionar uns maranhos para toda a família. E o Tio Ambrósio faz parte integrante da nossa família!
– Obrigado, Carlos! Essa é uma iguaria que eu muito aprecio! Antigamente, cá no Cabeço, em dias de festa, esse era um dos pratos mais típicos que, em minha casa, era servido em louça fina…
– Tem que haver alguma diferença entre os ditos maranhos e umas favas com entrecosto, que essas são servidas em pratos de barro vermelho…
– E nem por isso perdem o seu sabor, Carlos! Muito pelo contrário! Mas cada coisa se quer no seu devido lugar!
– Quer dizer que vossemecê aceita o convite para almoçar connosco no primeiro domingo de Setembro.
– Está bem, Carlos! Mas primeiro juntamo-nos todos na nossa igreja para participarmos na santa missa, às onze da manhã. Porque, cá no meu entender, entre os cristãos não pode haver verdadeira festa sem este encontro litúrgico, em que pedimos a bênção de Deus e, se for o caso, também a de Sua Mãe, Nossa Senhora Virgem Santíssima. Infelizmente, alguns já se vão esquecendo destes sãos princípios, pois nunca mais tiveram ocasião de avivar as lições de doutrina aprendidas ao colo das avós, quando havia avós que, entre muitas outras coisas boas, ensinavam os meninos a rezar. Mas, enquanto eu for vivo, cá estarei para os lembrar! Porque tenho para mim que continua a ser uma obra de misericórdia corrigir os que erram…
– E, antes disso, ensinar os ignorantes, Tio Ambrósio! A nossa experiência das lições de catequese de adultos, que, depois deste intervalo de férias, vão continuar a partir do começo de Outubro, tem-nos feito ver que, em matéria de religião e de vivência da fé cristã, o que mais se vê por aí é uma santa ignorância…
– Ignorância é pouco, Carlos!
– O Liberato afirma que se trata de uma ignorância crassa e supina!
– Isso, Carlos! E alguns lobos vestidos de cordeiros aproveitam essa circunstância para levar o nosso povo para outros rumos, pois o caminho mais fácil para o erro é sempre o da ignorância!
– Se o Tio Ambrósio o diz, eu não levanto a mais pequena dúvida!

23/08/2017

Madres há muitas, mas nem todas aparecem na TV


Sempre fui um “nabo” a jogar futebol. Não há dúvida: quem quiser saber o que é futebol, não deve olhar para mim, mas sim para os grandes “craques” do futebol mundial. Da mesma maneira, quem quiser saber o que é a Igreja deve olhar para os santos, e não para os maus exemplos. Os santos é que são a melhor amostra daquilo que a Igreja é. Também há cristãos (inclusive padres, freiras, etc.) que são corruptos e devassos, mas não são esses que dão a conhecer a verdadeira essência do que é a Igreja ou a vida consagrada.

É certo que o rei D. João V teve como amante Madre Paula, freira do convento de Odivelas. Isso é histórico! Mas, curiosamente, há uma outra madre bem diferente na vida de D. João V: em criança, o rei foi curado de uma enfermidade que o ameaçava de morte por causa de o seu capelão ter invocado a intercessão de Madre Maria do Lado, a fundadora do Mosteiro do Louriçal e das Clarissas do Desagravo. Grato a essa santa mulher da nossa Diocese, D. João V beneficiou o Mosteiro do Louriçal, patrocinando a sua esplendorosa igreja. Mas não deixa de ser ingrato e ironicamente triste que o rei “freirático” tenha sido salvo por uma Madre para depois vir a ser amante de outra: de facto, Deus tem que ter mesmo muita paciência para aturar esta humanidade!

A conclusão é que “madres” há muitas, mas só algumas (as que não prestam) é que têm direito a uma série televisiva. A nossa televisão gasta o nosso dinheiro a fazer séries eróticas para denegrir a imagem da Igreja, como se a Igreja fosse um antro de corrupção e hipocrisia. Mas não faz nenhuma série que mostre os exemplos heróicos de santidade, que são muitos e, esses sim, caracterizam o que a Igreja é.

Houve intervenientes na série que, em entrevistas, não esconderam que a personagem “Madre Paula” da série está romanceada, nem sequer corresponde bem à realidade: a Madre Paula da vida real, ao que parece, não era propriamente boa pessoa; mas, na série, “pintaram-na” de boazinha para ser bem acolhida pelo público. Isto indicia que a preocupação nem sequer foi fazer um retrato histórico fiel, o que nos leva a concluir que as intenções são outras, e bem perversas: fazer dinheiro com a produção de mais lixo pornográfico (a somar ao que já abunda por aí); e tentar desacreditar a Igreja aos olhos do público.

Madre Paula? Não, obrigado. Sou católico: não consumo pornografia. E temos na Igreja mulheres santas muito mais luminosas do que todas as “madres paulas” do mundo. Mesmo sem terem direito a séries televisivas.
P.e Orlando Henriques

11/08/2017

As procissões e as forças de segurança

As forças de segurança estão a contactar os párocos afirmando que, com base na Portaria n.º 298/2016, de 29 de Novembro, a partir de agora, as paróquias devem fazer um pedido de licenciamento das procissões e pagar a respectiva taxa e remunerações pelo policiamento da procissão.

Porém, conforme um esclarecimento enviado pelo Sr. Vigário Geral a todos os párocos da Diocese de Coimbra, essa taxa e remuneração só se referem a serviços que sejam solicitados às forças de segurança. Ora, a realização de procissões não implica ou obriga à solicitação desses serviços, pois, a normal ordenação do trânsito é um dever das forças de segurança e não depende de solicitação. Se as paróquias não requisitarem os serviços das forças de segurança, não estão sujeitas ao pagamento dos serviços remunerados a que se refere a dita Portaria.

O fundamento desta posição assumida pela nossa Diocese está na Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português, na Constituição da República Portuguesa e no Decreto Lei n.º 406/74.

A Lei não autoriza que o direito de reunião ou de manifestação (e, portanto, as festas religiosas, procissões, etc.) fique sujeito a prévia autorização, aprovação ou licença. A Lei apenas estabelece a simples obrigação de comunicação prévia às autoridades competentes, nomeadamente ao Presidente da Câmara Municipal, que não carece de qualquer autorização, aprovação ou licença.

O direito de reunião e de manifestação está consagrado no artigo 45.º da Constituição da República Portuguesa: “os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização” (n.º 1); e ainda “a todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação” (n.º 2).

Também o Decreto Lei n.º 406/74, de 29 de Agosto, confere a todos os cidadãos o direito de se reunirem pacificamente em lugares públicos, abertos ao público e particulares, independentemente de autorizações, para fins não contrários à lei, à moral, aos direitos das pessoas singulares ou colectivas e à ordem e à tranquilidade públicas (cfr. art.º 1.º).

Além disso, o artigo 2.º/1 da Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português estabelece que “a República Portuguesa reconhece à Igreja Católica o direito de exercer a sua missão apostólica e garante o exercício público e livre das suas actividades”, determinando-se, ainda, no n.º 3 que “é reconhecida à Igreja Católica, aos seus fiéis e às pessoas jurídicas que se constituam nos termos do direito canónico a liberdade religiosa, nomeadamente nos domínios da consciência, culto, reunião, associação, expressão pública, ensino e acção caritativa”. Exercício “público” e “livre” das actividades religiosas da Igreja Católica significa que tal exercício pode ser público e que não está sujeito a qualquer autorização, aprovação ou acto administrativo de licenciamento, seja a que titulo for.

Assim, as Paróquias, quando realizem procissões, a única coisa que têm a fazer é cumprir o que consta do Decreto Lei 406/74 (actualizado, no seu artigo 2.º, pelo artigo 2.º da Lei Orgânica n.º 1/2011, de 30 de Novembro), ou seja: devem avisar por escrito e com a antecedência mínima de dois dias úteis o Presidente da Câmara Municipal territorialmente competente (cfr. art. 2.º/1 do dito Decreto Lei); segundo as orientações Diocesanas, dadas pelo Sr. Vigário Geral, as paróquias não devem, de forma alguma, nem solicitar os serviços das forças policiais (cabe ao Presidente da Câmara Municipal solicitá-los, se considerar necessário), nem pagar seja o que for.
É este o procedimento que deve ser adoptado por todas as paróquias, numa atitude de unidade, de salvaguarda da liberdade religiosa e de acordo com a Lei em vigor.
Pe. Orlando Henriques