17/03/2018

Uma vocação frequente

Viver em continência (ou seja, abstendo-se de relações sexuais) é o modo de vida a que muitos cristãos são chamados: solteiros, viúvos, separados, celibatários, enfim, todos os que não sejam casados são chamados à castidade entendida enquanto continência sexual. Claro que os casados também são chamados à castidade, mas de forma diferente: vivendo as suas relações sexuais sempre num contexto de amor e de respeito de um pelo outro; e de abertura a nova vida, se o casal for fértil; isto para além do dever de ser fiel à pessoa com quem se casou, evidentemente. Por ser uma doação tão total e extrema, a relação sexual só faz sentido dentro do matrimónio, como expressão da entrega total que o matrimónio significa. Fora disso, não faz sentido; daí os mandamentos de Deus o proibirem.
Vem isto a propósito da recente polémica por causa do Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente ter apontado a abstinência sexual como solução possível para os “recasados” poderem aceder aos sacramentos. Mas não é novidade: São João Paulo II, na Familiaris Consortio (n.º 84), já tinha proposto essa solução aos “recasados” cuja separação, por algum motivo grave, não fosse conveniente (sobretudo quando há novos filhos, nascidos dessa 2ª união). Ora, se D. Manuel Clemente disse algo correcto, já afirmado por São João Paulo II, não se percebe porque é que veio desculpar-se publicamente e admitir a possibilidade de reformular o documento.
Alguém me dirá que os “recasados” não têm vocação celibatária. Mas quem somos nós para dizer que não têm? Nas campanhas vocacionais que temos feito, sempre dissemos que Deus, quando chama alguém, normalmente não o faz directamente, mas serve-Se de pessoas e circunstâncias para chamar. Ora, se o casamento de alguém fracassa, se qualquer intimidade sexual com outra pessoa atenta contra o “primeiro” (único!) casamento (que é válido até prova em contrário) e se a Igreja convida à continência, porque é que não hão-de ser essas as circunstâncias de que Deus se pode servir para chamar alguém a uma vida “celibatária” num determinado momento da sua vida? Não é nenhum “fardo” diferente do dos solteiros, viúvos ou celibatários! Não é fácil? Não é para ninguém, mas… temos fé em Quem nos chama? Ou a mentalidade do mundo já nos fez desacreditar?
Pe. Orlando Henriques

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