15/04/2018

Ao calor da fogueira (15-04-2018)

– Diziam por aí algumas aves agoirentas que iríamos ter um ano de seca, mas, pelos vistos, enganaram-se redondamente, Tio Ambrósio! Nas fontes ainda não é demais, mas algumas terras já estão saturadas…
– Antes fartura que miséria, Carlos! Mas o que pode acontecer é termos agora em excesso e, lá para Julho e Agosto, andarmos já de mãos erguidas a pedir a mercê de umas gotas que nos permitam ver as uvas engrossar para termos uma vindima farta e de boa qualidade.
– E quem fala em uvas, fala em tudo o resto que nós ainda vamos persistindo em cultivar nas nossas pequenas courelas. Mal dá para viver, é verdade, mas nós gostamos disto. Eu pelo menos tenho um amor à terra que dificilmente me adaptaria a um outro tipo de trabalho, mesmo que fosse mais limpo e melhor remunerado. Não consigo passar sem este cheiro a terra lavrada a entrar-me pelas narinas, sem o ruminar dos bezerros de criação e sem uma fornada de broa de milho para, no tempo dela, comer com uma boa sardinha assada…
– Já quase todos se foram embora, Carlos! Mas é bom que fiquem por cá ao menos uns líricos como tu, que sempre nos fazem lembrar aqueles velhos tempos em que, por esta altura, já estava aí tudo lavrado e os batatais a despontarem da terra…
– Coisa bonita de se ver, Tio Ambrósio! Mas a verdade é que só mesmo por teimosia um homem continua ligado aos trabalhos agrícolas, sobretudo quando as culturas são feitas a esta escala reduzida de meia dúzia de leiras. Eu produzo milho e batata para consumo lá em casa, porque ao menos sei o que como e o que dou a comer aos meus filhos. Mas toda a gente sabe que, se eu fosse a vender os produtos, não tiraria deles qualquer rendimento. A batata que eu semeio fica-me quatro ou cinco vezes mais cara do que a que vende o Sanguessuga lá no mini-mercado. E quem diz a batata diz o resto, nomeadamente as hortaliças e as frutas. E se passarmos para as carnes, então nem se fala! Ele vende lá frangos ao preço da chuva…
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