30/06/2017

O drama dos incêndios - Deus está ao nosso lado


Depois do rescaldo dos incêndios, perante um drama que parece absurdo e sem sentido, é a Palavra de Deus, que escutámos no Domingo passado, que vem dar resposta e sentido. Não sou eu que respondo (aliás, quem sou eu para dar respostas fáceis diante de uma tragédia tão dolorosa?), mas é Jesus que responde: «Não temais o que mata o corpo, mas não pode matar a alma»; e ainda, «valeis muito mais do que os passarinhos», e se um insignificante passarinho não morre sem o consentimento do Pai do Céu, quanto mais os Seus filhos amados; porque «até os cabelos da vossa cabeça estão contados», ou seja, um filho amado por Deus, mesmo que morra de forma trágica e "absurda", não passa despercebido a Deus: a integridade daquilo que ele é está guardado na mão de Deus. A vida não se esgota neste mundo, não acaba no cemitério. Choramos os que morreram e estamos solidários com os que sobreviveram, mas sem esquecer que esperamos uma vida melhor.
Não podemos dizer que Deus não existe, ou que não é bom, por causa de morrerem tragicamente crianças e outras pessoas inocentes; Jesus, o inocente do Pai, sofreu também a morte de forma violenta, e está ao nosso lado. Ele, que não veio nem para nos explicar nem tirar o sofrimento desta vida, mas veio viver o sofrimento juntamente connosco. E isso muda tudo: posso não conseguir compreender o sofrimento, mas se sei que Jesus está ao meu lado a vivê-lo comigo, então sei que algum sentido há-de ter. E tem, se fizer como S. Paulo, que completava na sua carne o que "falta" à Paixão de Cristo em favor do Seu Corpo, que é a Igreja. E com a confiança de saber que «até os cabelos da vossa cabeça estão contados».
Não faz sentido revoltarmo-nos contra Deus, por muito que achemos a situação injusta ou absurda. Tantas vezes nos esquecemos de Deus, tantas vezes só nos lembramos d'Ele nos momentos de aflição... Quando as coisas correm mal, não faz sentido querer colocar Deus no banco do réus, para O julgar. Quem somos nós (que nada sabemos) para julgar Deus? É como se o vaso de barro reclamasse contra o oleiro que o moldou, como se o barro dissesse ao oleiro «tu não percebes nada disto».
Se há alguém a quem colocar culpas, não é a Deus, mas sim aos governantes interesseiros e incompetentes, dos mais diversos partidos, que têm deixado o interior do país abandonado e desprezado.
Pe. Orlando Henriques
 
Nota: Texto a propósito dos incêndios que atingiram os concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Góis e Pampilhosa da Serra, que se iniciaram a 17 de Junho de 2017, e arderam durante uma semana. Morreram 64 pessoas.

À SOMBRA DO CASTANHEIRO (25-06-2017)

– Com esta caloraça toda, um homem nem sabe onde é que se há-de meter, Tio Ambrósio!
– Aqui à sombra do meu castanheiro não se está nada mal, Carlos! Além disso, aquela bica de água, que corre permanentemente ali ao cimo do quintal, traz ainda uma maior frescura a este sítio. É verdade que nem todos têm a sorte de viver num lugar assim…
– São privilégios da natureza que não são concedidos a todos!
– Alguns também não sabem aproveitar aquilo que lhe é concedido de graça, Carlos!
– Ou que pode ser conquistado com pouco esforço, Tio Ambrósio! Temos aí conterrâneos nossos que, ao pé da porta, em vez de plantarem um castanheiro assim como o seu, preferem um eucaliptal…
– Pois claro, Carlos! Um castanheiro deste porte demora umas dezenas de anos a tornar-se adulto, enquanto os eucaliptos crescem a olhos vistos e, se não vier a foice vermelha, dão lucro dentro de pouco tempo. Por isso, há que fazer escolhas, porque os benefícios não cabem todos no mesmo saco. E eu determinadamente prefiro a benesse desta sombra benfazeja!
– Também nisso nos dá uma grande lição, Tio Ambrósio! Mas como vossemecê não aceita louvores de ninguém, limito-me a pedir-lhe licença para usufruir um pouco da frescura desta sombra…
– Os bens que Deus nos deu são para todos! Há duas coisas que eu nunca nego a ninguém, porque são dádiva gratuita do Criador: esta sombra que refresca e o uso daquela tigela que está ali ao pé da bica de água e que tem matado a sede a milhares de pessoas. Quando eu nasci já cá encontrei quer a sombra quer a água, e, quando eu partir, cá ficarão para uso de todos os que por aqui passarem em busca de refrigério ou cansados e mortos de sede…
– Isso agora já não é assim tão evidente, Tio Ambrósio! Quem vier a herdar esta propriedade pode muito bem não querer dividir com os demais estas regalias, sendo provável que mande erguer um muro que não permita a passagem de quem deseje aproximar-se. E até pode botar aí uma tabuleta a informar que isto é propriedade privada, e outra a alertar para a presença de um cão de guarda…
– Há por aí muita gente assim, Carlos! Até tu serves de exemplo, pois não é muito fácil penetrar no espaço envolvente da tua casa…
– Teve que ser, Tio Ambrósio! A segurança assim mo exigiu…
– São opções, Carlos! Eu não te condeno por isso! Mas noto precisamente que, de há uns anos a esta parte, parece que, mesmo nas nossas aldeias, vivemos todos com medo uns dos outros. Tu nem sabes as saudades que eu tenho dos anos passados, quando todos íamos à nossa vida e deixávamos a chave na porta…
– Também não tínhamos coisas de grande valor, Tio Ambrósio! Nem oiro, nem prata, nem objectos de arte…
– Sempre guardávamos na arca um ou dois moios de cereal, e tínhamos na salgadeira o conduto para todo o ano…
– E havia muito mais respeito pelo bem alheio, pois toda a gente repetia para a sua consciência que era pecado grave “roubar, reter ou danificar os bens do próximo”. E todos aprendíamos estes princípios nas lições semanais da doutrina cristã. Não era, Tio Ambrósio?
– E esses princípios eram transmitidos em casa logo de pequenos…
– Nem todos, Tio Ambrósio! Em todas as aldeias havia uma ou outra família que, por necessidade ou por desatino, faziam ouvidos moucos dessas recomendações que o nosso Padre Feliciano repetia, na sua pregação, várias vezes ao ano…
– Eram casos raros, Carlos!
– Mas, infelizmente, os tempos mudaram para pior, e hoje não se respeita aquilo que o próximo adquiriu com o suor do seu rosto. E não é apenas aquilo que se tem no celeiro. Mesmo nos campos é preciso ter muita atenção com os amigos do alheio. Ainda há dias, o Quintino ficou sem cinco sacos de batata, da que agora veio no cedo. Porque tinha o tractor a arranjar, não quis estar a incomodar ninguém, e deixou parte da colheita para transportar no dia seguinte. E já não foi preciso ter essa preocupação, porque lhe vieram dizer que uma carrinha de caixa aberta tinha estado a carregar, perto das duas da manhã, uns sacos na terra que ela amanhava…
– Isso é que são uns safardanas, que não merecem outro nome! Então andou o rapaz a ter um trabalhão desses, que só quem semeia é que sabe o que lhe custa… e vem um larápio sem consciência e leva o que não lhe pertence?! Pouca vergonha!
– Mas o Tio Ambrósio ainda não sabe da história metade…
– Mais?
– Essa mesma batata não era para consumo do ladrão, mas para abastecer um lugar que vende frutas e hortaliças em Coimbra.
– Não, Carlos!
– Sim, Tio Ambrósio! E não foi este o único caso de roubo levado a cabo pelo tal da dita carrinha. O meu cunhado Acácio, no ano passado, mal chegou a provar os melões que cultivou numa terra que amanha ao pé da ribeira. Parece que também foram vendidos no mesmo lugar que transacionou as batatas do Quintino!
– Não posso acreditar! Eu nunca dei conta que me desaparecesse fosse o que fosse aqui do meu quintal.
– Vossemecê só semeia dois regos de favas, um canteiro de alface e três palmos de cenouras…
– Para mim é o bastante, Carlos! Mas entendo que quem bota a mão ao alheio se não queira sujar assim com coisa tão pouca.
– Vossemecê tem tudo aqui ao pé da porta, Tio Ambrósio! O pior é para quem cultiva terras longe da povoação, à beira dos caminhos…
– Não temos nada seguro, Carlos! Mas isso não me vai fazer mudar de procedimento. Até porque eu estou sempre a oferecer o que cultivo no quintal a toda a gente que por aqui passa. A propósito… não queres levar uma ou duas couves repolhudas que, apesar do calor, estão ali mesmo a pedir que as comam?
– Acho que vou aproveitar, Tio Ambrósio! As minhas ainda estão atrasadas e penso que a Joana vai preparar cozido para o almoço…
– Leva à vontade, Carlos! Assim já não corro o risco de me ver sem elas e atribuir o “desvio” a este ou àquele. Porque eu nunca gostei de apontar o dedo fosse a quem fosse. E não sou nenhum santo!

22/06/2017

Circular do Bispo de Coimbra sobre o apoio às vítimas dos incêndios


O Sr. Bispo escreveu esta carta circular ao clero da Diocese de Coimbra sobre a ajuda que daremos, como Diocese, aos nossos irmãos vítimas dos últimos incêndios:


Coimbra, 19 de Junho de 2017

Senhor Padre

Estamos todos profundamente chocados com o drama que se abateu sobre algumas das nossas comunidades em virtude dos incêndios que deflagraram nos últimos dias e deixaram inúmeras pessoas a sofrer com a perda dos seus bens e muito mais com a perda dos seus familiares.

A Diocese de Coimbra, as suas paróquias, os seus pastores e o povo de Deus em geral sentem profundamente a dor de todos os seus membros e querem estar próximos, de acordo com as suas possibilidades e dentro das modalidades que se considerem mais adequadas. São irmãos em humanidade e irmãos na fé, que precisam de consolação e comunhão da parte de todos nós e queremos estar presentes.

Já tive oportunidade de estar localmente presente e de deixar um pequeno sinal da comunhão da Igreja Diocesana e pude sentir como isso é importante para que as pessoas renovem a confiança e a esperança no Deus misericordioso, que não esquece nenhum dos seus filhos, particularmente os que se encontram em tribulação.

Peço-lhe que continue a ajudar as comunidades cristãs a sentirem como suas as dores destes seus irmãos e que intensifiquem a oração em favor do fortalecimento da esperança dos atribulados e pelo eterno descanso dos defuntos.

Informo que o ofertório das celebrações dominicais de 2 de Julho reverterá a favor das necessidades das pessoas e famílias vítimas dos incêndios ocorridos na área da nossa Diocese. Peço que informe as comunidades desta campanha já no próximo Domingo, a fim de as pessoas irem preparadas para o ofertório do Domingo seguinte.

A Cáritas de Coimbra está encarregada de gerir um fundo de auxílio em nome da Diocese de Coimbra e em articulação com as paróquias atingidas pelo flagelo dos incêndios.

O produto do ofertório deverá ser entregue a curto prazo na Cúria Diocesana que o fará chegar à conta criada para esse efeito pela Cáritas Diocesana de Coimbra e que tem o seguintes dados:

IBAN: PT50 0018 000344379659020 66
BIC/SWIFT: TOTAPTPL com a seguinte designação:
CARITAS de COIMBRA - Incêndios 2017.

Outros donativos poderão ser directamente canalizados para a referida conta.
Grato pela comunhão e pela disponibilidade para levar por diante esta obra de caridade nas suas diferentes vertentes, peço ao Senhor que abençoe pastores e fiéis.
 
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

18/06/2017

À SOMBRA DO CASTANHEIRO (18-06-2017)

– Eu não quero que o Tio Ambrósio fique ofendido comigo. Por isso vou vender-lhe esta novidade pelo mesmo preço que ma venderam a mim. Alguém terá dito aí no Cabeço que alguns cidadãos, com o nosso comum e fiel amigo Liberato à frente do movimento, se preparam para lhe prestarem uma honrosa, digna e justa homenagem…
– A mim? Não, Carlos! Aí deve haver engano! Eu tenho esta idade que tu sabes mas, graças a Deus, penso que estou ainda no meu juízo perfeito. E já o meu avô, nas suas orações da noite, em que todos o acompanhávamos com muito respeito e alguma sonolência, rezava um Padre Nosso ao Senhor para que nos desse juízo e entendimento até a hora da morte. Ainda hoje essa é uma das minhas intenções habituais, pelo que espero que Ele me não falte com um bocadinho de tino para me livrar dessa e doutras tentações do inimigo. Certamente foi alguém que te mandou sondar o terreno. Mas podes dizer-lhe abertamente que não. Já houve uma altura em que estive para escorregar numa armadilha dessas. Mas, depois de pensar maduramente, tive a coragem de rejeitar toda e qualquer proposta nesse sentido. Para um homem aceitar uma homenagem tem que estar convencido que fez alguma coisa de especial na vida, que fez uma descoberta importante, que prestou algum serviço relevante à comunidade. Ora, com este teu velho amigo, não se passou nada disso. Eu nunca passei de um cidadão normalíssimo, que vive do trabalho das suas mãos, que cava, semeia e rega como todos os outros cá no Cabeço para, desse modo, prover à sua digna mas frugal sustentação.
– Eu sei que o Tio Ambrósio é avesso a todas essas demonstrações exteriores. Mas, vendo bem, até será possível arranjar pelo menos uma meia dúzia de razões para todos, não digo lhe prestarmos uma homenagem, mas fazermos uma festa em que recordemos todo o seu percurso de vida e todo o bem que, quase sem ninguém dar conta, foi fazendo ao longo de uma vida tão longa e tão cheia.
– Agora vejo que te encomendaram o sermão, Carlos!
– O Tio Ambrósio conhece-me desde menino e moço, de tal modo que eu, na sua presença, não consigo dissimular aquilo que realmente estou a pensar. Por isso não pode levar a mal que as pessoas lhe queiram demonstrar quanto estão gratas pelos seus conselhos e quanto admiram o seu trajecto de vida, pois sempre conseguiu conciliar a modéstia e a humildade de um simples cavador de enxada do Cabeço com uma sólida formação intelectual adquirida na leitura de bons livros e na meditação dos acontecimentos…
– E sobretudo na proximidade com a Palavra de Deus, Carlos! Isso, porém, está ao alcance de todos, desde que sejam diligentes.
– A diligência é uma virtude difícil de adquirir, Tio Ambrósio!
– Como todas as outras, Carlos!
– Esta é um bocadinho mais! Digo eu, que não percebo nada de nada. Mas sempre ouvi dizer que a preguiça é a mãe de todos os vícios e acrescentar que o único modo de a vencer é através da diligência. E aí temos nós mais um motivo para lhe estarmos agradecidos, porque o Tio Ambrósio tem sido para nós um exemplo de muitas e variadas virtudes, nomeadamente essa da diligência.
– Deixa-te de louvores fáceis, Carlos! Não sei se estás recordado do que disse Jesus aos discípulos, segundo o relato evangélico de São Lucas, creio que no capítulo 17. Para os advertir contra a possibilidade de se vangloriarem pelo facto de terem feito alguma obra boa, Ele apresenta-lhes uma parábola em jeito de pergunta. Até podes ler o texto, que eu quase sempre tenho a Bíblia ao dar da mão. Abre aí e lê, que é assim que se aprende…
– Ora cá está o capítulo 17 que …não estou bem a ver bem essa passagem!
– Procura, que encontrarás!
– É aqui, a partir do versículo 7. Vou ler: “Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá quando ele regressar do campo: Vem cá depressa e senta-te à mesa? Não lhe dirá antes: Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires enquanto eu como e bebo; depois comerás e beberás tu? Deve estar grato ao servo por ter feito o que lhe mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”.
– Que tal, Carlos?
– É bem claro, Tio Ambrósio! De qualquer modo não podemos concluir desta passagem evangélica que seja pecado demonstrar a nossa gratidão às pessoas que nos tenham feito bem durante a vida. Eu penso que a ingratidão é que é de censurar e mesmo de condenar…
– Eu entendo-te, Carlos! Mas prefiro sublinhar para mim que, mesmo depois de ter feito algumas boas obras e de ter tentado servir de bom exemplo sobretudo para os mais novos, devo continuar a considerar-me um servo inútil, pois não fiz nada mais do que aquilo que devia fazer. Eu não sou dono e senhor de nenhum dos dons com que sirvo a comunidade…
– A muita humildade também se pode converter num defeito, Tio Ambrósio!
– Pode! E já tenho meditado nesse assunto muitas vezes, chegando à conclusão que não devo arranjar motivos fáceis para deixar de cumprir a minha obrigação.
– Nesse caso, o melhor é não falarmos mais desse assunto, embora fosse um gosto para mim, e para outros rapazes do meu tempo, podermos dar-lhe um abraço demonstrativo da gratidão que todos lhe devemos…
– Para abraços, estou por aqui, Carlos! Para palavras de lisonja, que me cheiram sempre a oco, para essas é que não.
– Então, o melhor é arranjarmos um abraço colectivo! Não sabemos é qual seja a forma de lho fazer chegar!
– Quando vier o S. Martinho, se Deus Nosso Senhor ainda cá nos deixar andar, teremos ocasião de nos abraçar, Carlos! De pequenos e grandes, novos e velhos… de todos receberei com gosto o abraço da fraternidade que nos tem unido ao longo dos tempos…
– E vai continuar a unir, Tio Ambrósio!
– Assim o espero, por graça de Deus!

15/06/2017

Recordando D. Albino 5 anos depois


Faz precisamente hoje 5 anos que faleceu D. Albino Mamede Cleto. É ocasião para recordar o seu lema ("Mais alegria em dar do que em receber") e a sua vida:

Mais alegria em dar do que em receber
D. Albino Mamede Cleto nasceu em Manteigas, a 3 de Março de 1935. Frequentou o Seminário do Patriarcado de Lisboa, Diocese onde foi ordenado presbítero a 15 de Agosto de 1959. Licenciou-se em Românicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e foi professor ocasional na Universidade Católica de Lisboa, onde leccionou Línguas e Literatura. No Patriarcado de Lisboa fez parte da equipa formadora do Seminário de Almada como prefeito de estudos e Vice-Reitor, presidiu à Comissão Administrativa do Santuário de Cristo-Rei, foi pároco da Paróquia da Estrela e membro da Comissão Diocesana de Arte Sacra do Patriarcado. Foi nomeado Bispo-auxiliar de Lisboa a 6 de Dezembro de 1982, com o título de Elvira pelo Papa São João Paulo II. A sua ordenação episcopal decorreu a 22 de Janeiro de 1983 no Mosteiro dos Jerónimos onde foi ordenado por D. António Ribeiro, cardeal-patriarca de Lisboa, por D. João Alves, bispo de Coimbra e por D. José da Cruz Policarpo, Bispo-auxiliar de Lisboa. A 29 de Outubro de 1997 foi nomeado Bispo-coadjutor de Coimbra, onde tomou posse a 11 de Janeiro de 1998 e assumiu o governo da Diocese de Coimbra a 14 de Março de 2001 por resignação de D. João Alves. D. Albino Cleto foi também presidente da Comissão Episcopal dos Bens Culturais da Igreja e vogal da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais. A 28 de Abril de 2011 teve a sua renúncia aceite, por limite de idade, por Sua Santidade o Papa Bento XVI. Desde essa data, foi Administrador Apostólico da Diocese de Coimbra e a partir de 10 de Julho de 2011 tornou-se Bispo Emérito de Coimbra. Continuou a exercer o seu cargo de vogal na Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade. Vítima de problema cardíaco, faleceu a 15 de Junho de 2012, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Foi sepultado na campa da família, no cemitério de Manteigas.

Excerto da homilia de D. Virgílio Antunes nas exéquias de D. Albino Cleto:

“Nada o podia deter!”
«Recorrendo à metáfora geográfica tão comum na Sagrada Escritura, poderíamos descrever a vida do Senhor D. Albino como uma grande missão e uma apressada peregrinação. A voz de Deus fez-se ouvir nas montanhas: «Vai para a terra que Eu te indicar». «Eis-me aqui», foi a resposta pronta, apesar da tenra idade e da incerteza do futuro. A arder de zelo pela casa do Senhor, desce em direção à planície, confiado na força d’Aquele que o chama e o envia. E ele vai às cidades e aldeias onde era preciso anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Ali, na terra densamente povoada a que foi enviado, na “grande cidade”, o tempo urge e não se pode desperdiçar; é a salvação da cidade e do mundo que está em causa; nada há que levar consigo e nada há a reservar para si: «recebestes de graça, dai de graça»; «há mais alegria em dar do que em receber», foi a palavra de ordem. Corre de um ao outro lado, numa ânsia incontida de anunciar a Boa Nova a todos sem exceção. A seara era grande e os trabalhadores eram poucos; nada o podia deter.
Com a sensação do dever cumprido, testemunha das maravilhas de graça que Deus realiza nos seus humildes servos, D. Albino pôde agora voltar ao monte, onde Deus preparou um banquete de alegria para todos os povos. De facto, «nem a morte nem a vida poderá separar-nos do amor de Deus que se manifestou em Cristo Jesus, nosso Senhor». Vimos de Deus e, se permanecemos n’Ele, somente o regresso a Ele dará repouso aos nossos corações inquietos.
Feliz na terra, mais feliz será no Céu diante da misericórdia de Deus que apaga todo o pecado: Entra na alegria do teu Senhor, porque estiveste próximo dos mais pequenos e deixaste uma rasto de bondade por onde passaste; entra na alegria do teu Senhor, porque nenhuma das dores humanas te foi indiferente; entra na alegria do teu Senhor, porque emprestaste o teu rosto amigo e bom a Cristo o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas.» (D. Virgílio Antunes)

À SOMBRA DO CASTANHEIRO (11-06-2017)

– Parece que não vens nos teus melhores dias, Carlos! Essa cara não faz transparecer aquela alegria que exibes nos teus dias de melhor humor…
– Já o Liberato, no fim da missa, me disse a mesma coisa! Mas eu não vejo nenhuma razão especial para isso. A não ser que o que se passa em Portugal e um pouco por todo o mundo encha todos os corações de alegria, menos o meu.
– Então conta-me quais são as tuas grandes preocupações. O Liberato diria que se trata de preocupações existenciais…
– Não, Tio Ambrósio! Mas, por mais que me digam que sempre houve estes desmandos em Portugal e no mundo, eu não sou capaz de fechar os olhos à realidade para concluir que, se o homem não muda de rumo, isto qualquer dia vai mesmo tudo por água abaixo.
– Podias ser um bocadinho mais concreto, Carlos!
– Cá é o que se vê, Tio Ambrósio! Os casos de corrupção multiplicam-se como cogumelos depois das chuvas, não havendo dia nenhum em que não apareça mais um caso de dois ou três nomes, bem conhecidos na praça, que se meteram em esquemas de favores e de outras aldrabices, tendo a intenção de se abotoarem com os bens alheios. Não é preciso que eu lhe diga nomes, pois não, Tio Ambrósio? Aqueles homens impolutos que estiveram durante anos em cargos de grande responsabilidade, afinal o que fizeram sempre foi tentar ver qual era a melhor maneira de meterem a mão no bolso dos pobres portugueses. Um dia destes tive uma longa conversa com o Sanguessuga, e ele ainda está mais preocupado que eu. Por exemplo disse-me que, hoje em dia, nenhum cidadão, a começar por ele próprio, pode ter a mínima confiança nos bancos e outras instituições de crédito…
– Eu sou um pobre e, por isso, não preciso de lidar frequentemente com esse mundo do capital. Mas entendo que haja cidadãos preocupados com a forma como são geridas as suas poupanças…
– É o caso do Sanguessuga, Tio Ambrósio! Até há meia dúzia de anos atrás, ou talvez um pouco mais, ele tinha inteira confiança nas instituições bancárias, louvando mesmo os seus gestores de conta que, sem deixarem de zelar pelo lucro de quem lhes paga o vencimento, tinham também alguma deferência pelos depositantes. E nisto, quase toda a gente com quem tenho abordado o assunto, concorda que a nossa banca perdeu toda a confiança que os pequenos aforradores portugueses nela colocavam…
– Quem te ouvir até há-de pensar que tens depósitos chorudos em alguma dessas
instituições lucrativas…
– Não tenho, Tio Ambrósio! Mas digo-lhe que, desde novo, me habituei a poupar hoje aquilo que amanhã me pode vir a ser preciso. Eu dou-lhe um exemplo. Quando eu vi que as instalações para criar os bezerros estavam já a precisar de reforma, não andei com o carro à frente dos bois, como vejo fazer a muita gente, mas disse à Joana que tínhamos que amealhar o mais possível. E, com a ajuda dela, fui depositando, num dos balcões bancários na vila, um mês cem, outro mês cinquenta, até que me pareceu que estava em condições financeiras de remodelar os estábulos. Eles, quando eu fui levantar o pecúlio, ainda me acenaram com um crédito que, segundo o gerente, seria vantajoso, mas eu disse logo que não. Não sou homem de andar a dever seja a quem for, e muito menos à banca que, como diz o Liberato, nasceu cega e sem coração.
– E confiaste as tuas poupanças a essa instituição bancária!
– Nesse tempo eu confiava inteiramente neles! Agora é que, vendo os desvios de fundos e aquilo a que o Sanguessuga chama de “roubalheira organizada”, comecei a pôr o pé atrás, até porque já vi alguns depositantes a ficarem sem parte do que foram amealhando ao longo da vida. E para lhe ser franco, estes casos levam-me a dizer que hoje não tenho a mais pequena confiança nos bancos…
– Só nos bancos?
– Nos bancos, nos banqueiros, nos políticos e em muita outra gente que só sabe olhar para o seu umbigo, não tendo a mínima consideração pelo bem dos seus semelhantes e pelo bem da comunidade local, nacional e mesmo mundial. Um político que siga a filosofia do egoísmo totalitário deixa-me seriamente preocupado. Por mais poderoso que seja, um homem com responsabilidades de governo nunca pode menosprezar os outros, dizendo que “desde que eu esteja bem os outros que se tramem”.
– Disseste que se tramem, ou eu não ouvi bem…
– Podia ter dito que se trampem, mas não disse, Tio Ambrósio. Embora esse cavalheiro me mereça ainda menos confiança que algumas instituições bancárias, por causa da sua arrogância e, como diz o Liberato, da sua pesporrência, eu não sou capaz de condenar o homem…
– Fazes bem, Carlos! Devemos condenar o erro, deixando para os juízes a condenação daqueles que erram…
– Mas alguns são mesmo uns tratantes, Tio Ambrósio! E perdoe-me a franqueza de dizer que esse é um deles…
– Tem calma, Carlos! Ultimamente tens andado um pouco nervoso e ferves em pouca água. Algum distanciamento dos casos pontuais é sempre necessário para fazermos uma avaliação mais correcta dos acontecimentos. E então, quando se trata de avaliar as pessoas, temos que pensar sempre duas vezes.
– O Tio Ambrósio não leu aquela passagem do Evangelho em que Jesus chama uns certos cavalheiros de “sepulcros caiados”?
– Mas Jesus tinha um conhecimento do coração humano que tu não tens e eu não tenho…
– Pois tinha! E eu gostava que Ele estivesse agora num lugar que eu sei, em frente de um senhor que eu sei, para, de olhos nos olhos, embora com todo o respeito, lhe dizer que ele é um “sepulcro caiado”, porque, ou por birra de menino rico, ou para agradar a alguns dos seus apoiantes, pode pôr em risco a saúde de milhares de milhões de seres humanos e o próprio futuro da vida deste planeta que é a nossa casa comum.
– Há erros irreparáveis, Carlos! Mas eu continuo a acreditar que o bem há de sempre triunfar sobre o mal, e que, mais tarde ou mais cedo, os homens se vão entender sobre o modo de conciliarem o progresso com a ecologia.
– Deus o ouça, Tio Ambrósio!

04/06/2017

À SOMBRA DO CASTANHEIRO (04-06-2017)

– Eu estou a ficar muito desiludido com a humanidade, Tio Ambrósio!
– Eu não, Carlos!
– Até parece mentira, Tio Ambrósio! Vossemecê que é tão crítico em relação a determinados comportamentos…
– Mas isso não é estar desiludido seja com quem for, Carlos! Só pode ficar desiludido quem alguma vez se deixou iludir. E, em matéria coração humano, estamos conversados. Claro que há honrosas excepções! Tu, por exemplo, tens um coração de oiro, que eu bem te conheço, e até escusas de começar aí com falsas modéstias. Mas, se falarmos do ser humano em geral, verificamos que fica muito aquém do que nós esperávamos. Como refere o evangelista Marcos, creio que no capítulo 17, Jesus afirmou a todos os que o quiseram ouvir que “é do coração do homem que procedem os maus pensamentos, adultérios, imoralidades, roubos, falsos testemunhos, calúnias e blasfémias”.
– Eu fico admirado como essa palavra de Cristo é inteiramente actual nos nossos dias e na nossa sociedade, Tio Ambrósio! Abre a gente as páginas de qualquer jornal…
– Vê lá o que dizes! Não ponhas tudo no mesmo saco, porque há jornais, como é o caso do nosso “Amigo”, que não fazem grandes títulos com os desvios, as calúnias e outras misérias humanas que alguns fulanos já nem se importam que venham à luz do dia…
– Mas parece que esta é a verdade, Tio Ambrósio! Os nossos jornais continuam cheios de notícias de crimes de toda a espécie, de tal forma que a gente começa a temer pela própria segurança e até pelo seu bom nome. Deixou de haver qualquer tipo de moralidade, tudo servindo para alguns pretenderem passar por aquilo que não são, encobrindo crimes vários, nomeadamente de natureza económica. Agora, para desculpa da própria actividade marginal à lei, lançam-se suspeitas sobre tudo e sobre todos…
– É uma das formas de desviar atenções, Carlos! Para o povo não ver a gravidade de alguns roubos e desvios de lesa-património, atira-se um punhado de poeira para os olhos dos outros e, enquanto a gente esfrega e não esfrega, a traficância já prescreveu e o malfeitor fica a rir a bandeiras despregadas.
– E isso só acontece com um reduzido número de crimes, porque a maioria deles são praticados de modo a que nem a Justiça se apercebe de tudo o que aconteceu. Eu não quero exagerar, Tio Ambrósio! Mas, pelas contas do Sanguessuga, temos aí meninos que se abotoaram com centenas de milhões de euros que nunca lhe pertenceram, nem podiam ter pertencido…
– Há muitas formas de ganhar fortunas, Carlos!
– Mas eu estou a falar das formas ilícitas, Tio Ambrósio! Como diz o nosso povo, “quem cabritos vende e cabras não tem”…
– De algures lhe vem!
– E de onde lhes vem, Tio Ambrósio? Bens familiares? Não, que as famílias onde nasceram muitos deles o que poderiam possuir era um pedaço de terra ou um pequeno pé-de-meia ganho em alguns anos de emigração. O que acontece é que, na maioria absoluta dos casos, os incriminados se valeram de cargos que ocuparam durante algum tempo para urdirem verdadeiros esquemas de desvio de somas enormes, que depositaram em lugares seguros no estrangeiro. E, quando o caso se começa e deslindar, aparece um recurso para um tribunal superior, ou inventa-se uma outra manigância qualquer, chegando-se mesmo a lançar suspeitas sobre a idoneidade moral daqueles que têm a missão de julgar. Tudo serve para arrastar os processos por tempos infindos…
– Com essa leitura dos acontecimentos até parece que vivemos num país sem rei nem roque, numa espécie de paraíso inventado para os que exercem actividades de marginalidade económica, onde tudo é permitido…
– Eu não queria ser tão pessimista, Tio Ambrósio! E não estou a referir nenhum caso concreto, mas apenas a reagir a notícias vindas a público nos meios de comunicação social. De resto, eu sou tão humano (não é por acaso que vossemecê diz que eu tenho um coração de oiro) que nem desejava que nenhum dos suspeitos e incriminados fosse condenado à reclusão durante anos e anos. O que eu queria mesmo era que a Justiça tivesse meios de descobrir e poder reaver as importâncias que foram desviadas, roubadas ou extorquidas ao erário público, isto é ao povo português que, em última análise, é quem sempre paga as favas.
– Esse era também o meu desejo, Carlos! Até porque, mesmo que tivéssemos meios para esclarecer todas as traficâncias que se fizeram nestes últimos anos, mesmo que fossem identificados todos os responsáveis, estou em crer que não teríamos cadeias onde albergar tanta gente!
– Por isso mesmo é que eu penso que este problema não terá solução enquanto os desonestos não converterem o seu coração à honestidade e os mentirosos não arrepiarem caminho. Será possível?
– Possível seria, Carlos! Mas eu não estou a ver essa gente com grande inclinação para o arrependimento. E muito menos para a mudança de vida! O meu avô já dizia que os maus hábitos depressa se adquirem, mas tarde ou nunca se largam.
– Então está o Tio Ambrósio quase a chegar à mesma conclusão que eu, depois da conversa que tive com o Sanguessuga…
– Ou seja…
– Ou seja, que estou a ficar desiludido com a humanidade…
– Com parte da humanidade! A par de uns tantos vigaristas, há muitos seres humanos (e penso que é a maioria) que pautam a sua vida pela honestidade, que procuram cumprir os seus deveres de cidadãos, que têm como princípio sagrado não lesarem o próximo seja no que for…
– Será, Tio Ambrósio? Então porque é que os jornais e os noticiários televisivos só nos mostram crueldades, patifarias, roubos e assassínios?
– Porque querem vender o seu produto, Carlos! Como eu te disse, há por aí muita desgraça, muita mentira e muita corrupção. Mas eu, no fundo, mantenho a minha esperança na capacidade do homem para se regenerar. Estou convencido, lendo S. Paulo, que a graça de Deus acabará por triunfar, até porque não existe nenhum pecado maior que a misericórdia divina…
– Se o Tio Ambrósio o afirma, quem sou eu para duvidar?

03/06/2017

Há 100 anos à sombra do castanheiro

Muitas pessoas já têm perguntado que idade terá o Tio Ambrósio e o Carlos do Cabeço que todas as semanas aparecem aqui a conversar “À sombra do castanheiro”, no Verão, ou “Ao calor da fogueira”, no Inverno.
Pois esta crónica de título sazonal é quase tão antiga como o próprio Amigo do Povo. O nosso jornal sempre procurou catequizar recorrendo a diálogos de várias personagens mais ou menos fixas, mas o Tio Ambrósio e o Carlos do Cabeço acabaram por ser aquelas que perduraram até hoje. Foi a 3 de Junho de 1917 (portanto, há 100 anos!) que, pela primeira vez, surgiu um diálogo “À sombra do castanheiro”. A 26 de Outubro de 1917, o Tio Ambrósio sugere ao Carlos que, daí para a frente, as suas conversas passassem a ser ao serão e “ao calor da fogueira”. E foi assim que a 18 de Novembro seguinte saiu o primeiro “Ao calor da fogueira”.
Um diálogo sempre muito apreciado, escrito já por quatro redactores ao longo da sua história, também teve os seus momentos mais polémicos, principalmente a seguir ao 25 de Abril, quando fez forte oposição a certos abusos. O director d’O Amigo do Povo da época chegou a ser preso por isso. Celebrar 100 anos de uma crónica tão emblemática é celebrar a liberdade de expressão ao serviço do Evangelho. Aqui deixo um abraço de parabéns ao Tio Ambrósio e ao Carlos que, apesar da sua bonita idade, permanecem jovens.
Padre Orlando Henriques
 


01/06/2017

A lógica da boa notícia

A Igreja comemora hoje, dia 28 de Maio, o 51.º Dia Mundial das Comunicações Sociais sob o tema «“Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43,5). Comunicar a esperança e a confiança, no nosso tempo».
Na sua mensagem, o Papa Francisco pretende desafiar todos os comunicadores/jornalistas a esforçarem-se por transmitir uma informação verdadeira e de qualidade. Exorta a uma comunicação construtiva, que “promova uma cultura do encontro por meio da qual se possa aprender a olhar, com convicta confiança, a realidade”.
Não ignorando a realidade, é preciso quebrar o sistema de “notícias más”, que nos levam a viver no medo e na angústia, sentindo que não podemos parar o mal. Pensar que as boas notícias não despertam atenção leva a que, ao vermos tantas notícias más, possamos cair na indiferença.
Assim, o Papa deseja que o mal não seja o protagonista das notícias, mas que se apresentem possíveis soluções, olhando para o que de mal acontece com um olhar positivo e responsável. Quer implementar a lógica da “boa notícia”.
Miguel Cotrim
(28-05-2017)

O problema da natalidade

Vemos notícias de muita preocupação porque a natalidade é baixa e o nosso país está a envelhecer; e porque, dos mais de 10 milhões que somos agora, ficaremos reduzidos a 7 milhões dentro de algumas décadas…
É revoltante, tendo em conta que desde há 10 anos que temos aborto legalizado e pago com o dinheiro dos contribuintes: matamo-los e depois queremos que eles nasçam? Que país hipócrita é este, onde se incentiva o aborto e, depois, se vem falar de natalidade? E depois há uma (des)educação que é incutida à juventude: dá-se preservativos aos jovens, em vez de educação para a responsabilidade e para o amor. A vivência egoísta da sexualidade (sexo sem filhos, exclusivamente) já vem sendo cultivada entre nós desde há muitos anos.
Estávamos à espera de quê? É evidente que a natalidade se ressente com todos estes erros, que são, principalmente, erros morais que colocam as almas em perigo, como a Igreja tem alertado: Papas santos tiveram que enfrentar muitas incompreensões, em especial o Beato Paulo VI e S. João Paulo II. Eles foram grandes vozes que anunciaram a abertura ao dom da VIDA, contra o uso de contraceptivos e contra o aborto. Foram vítimas de zombarias e de caricaturas mordazes. Eles perdoaram, mas a história não perdoa: ninguém semeia o que não colhe. E nós estamos a colher o que semeámos: esterilidade.
Padre Orlando Henriques
(28-05-2017)

Anunciar e denunciar

Quando Jesus subiu ao céu, na Sua Ascensão, o mandato que deixou aos discípulos ao despedir-se deles foi: «Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho». Fiel a este mandato do Senhor, a Igreja encontra nos meios de comunicação social um verdadeiro “megafone” para amplificar esse anúncio do Evangelho. É por isso que neste Domingo da Ascensão do Senhor se assinala sempre o Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social.
Difundir a verdade continua a ser missão da Igreja através de meios como este. A imprensa continua a ser, para nós, meio para anunciar a Verdade, o que também passa por denunciar a mentira. Sempre se inventaram mentiras contra a Igreja, mas hoje as mentiras têm uma expansão muito maior graças às redes sociais na internet: criam-se notícias falsas que as pessoas partilham e põem a circular sem terem a preocupação de verificar se é verdade ou não. Foi o caso recente de mais uma “onda” de indignação por uma notícia falsa segundo a qual o Santuário de Fátima estaria a maltratar animais. Basta fazer uma simples pesquisa para descobrir que a notícia é falsa e que, além disso, é um boato que se repete volta e meia (normalmente em Maio): desde 2010 que o Santuário tem feito comunicados públicos a desmentir e a esclarecer; mas, sempre que alguém lança novamente o boato, muitos se indignam e espalham a notícia sem se questionarem se é verdade ou mentira. E o pior é ver a imprensa “séria” a ir, às vezes, nessa onda.
Para O Amigo do Povo, anunciar a Verdade e denunciar a mentira continua a ser tão necessário hoje como em 1916.
Padre Orlando Henriques
(28-05-2017)