Depois do rescaldo dos incêndios, perante um drama que parece absurdo e sem sentido, é a Palavra de Deus, que escutámos no Domingo passado, que vem dar resposta e sentido. Não sou eu que respondo (aliás, quem sou eu para dar respostas fáceis diante de uma tragédia tão dolorosa?), mas é Jesus que responde: «Não temais o que mata o corpo, mas não pode matar a alma»; e ainda, «valeis muito mais do que os passarinhos», e se um insignificante passarinho não morre sem o consentimento do Pai do Céu, quanto mais os Seus filhos amados; porque «até os cabelos da vossa cabeça estão contados», ou seja, um filho amado por Deus, mesmo que morra de forma trágica e "absurda", não passa despercebido a Deus: a integridade daquilo que ele é está guardado na mão de Deus. A vida não se esgota neste mundo, não acaba no cemitério. Choramos os que morreram e estamos solidários com os que sobreviveram, mas sem esquecer que esperamos uma vida melhor.
Não podemos dizer que Deus não existe, ou que não é bom, por causa de morrerem tragicamente crianças e outras pessoas inocentes; Jesus, o inocente do Pai, sofreu também a morte de forma violenta, e está ao nosso lado. Ele, que não veio nem para nos explicar nem tirar o sofrimento desta vida, mas veio viver o sofrimento juntamente connosco. E isso muda tudo: posso não conseguir compreender o sofrimento, mas se sei que Jesus está ao meu lado a vivê-lo comigo, então sei que algum sentido há-de ter. E tem, se fizer como S. Paulo, que completava na sua carne o que "falta" à Paixão de Cristo em favor do Seu Corpo, que é a Igreja. E com a confiança de saber que «até os cabelos da vossa cabeça estão contados».
Não faz sentido revoltarmo-nos contra Deus, por muito que achemos a situação injusta ou absurda. Tantas vezes nos esquecemos de Deus, tantas vezes só nos lembramos d'Ele nos momentos de aflição... Quando as coisas correm mal, não faz sentido querer colocar Deus no banco do réus, para O julgar. Quem somos nós (que nada sabemos) para julgar Deus? É como se o vaso de barro reclamasse contra o oleiro que o moldou, como se o barro dissesse ao oleiro «tu não percebes nada disto».
Se há alguém a quem colocar culpas, não é a Deus, mas sim aos governantes interesseiros e incompetentes, dos mais diversos partidos, que têm deixado o interior do país abandonado e desprezado.
Pe. Orlando Henriques
Nota: Texto a propósito dos incêndios que atingiram os concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Góis e Pampilhosa da Serra, que se iniciaram a 17 de Junho de 2017, e arderam durante uma semana. Morreram 64 pessoas.
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